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Dominique Gonçalves

A nossa Amiga do Mês de Maio é a Dominique Gonçalves, que dirige o Projecto de Ecologia de Elefantes no Parque Nacional da Gorongosa, em Moçambique.

Por favor, conte-nos um pouco sobre a sua infância e como interessou-se pelo mundo natural... e como iniciou a sua carreira em zoologia e conservação?

Nasci e cresci na cidade portuária da Beira, no centro de Moçambique. Cresci com as minhas duas irmãs e os meus pais, e sempre ouvia o meu pai contar sobre as suas experiências quando trabalhava na área florestal. Sempre tive um grande interesse por jardinagem e flores (provavelmente por causa da minha mãe), mas foi só na sexta classe, quando um dos meus professores trouxe uma revista que destacava o trabalho de Wangari Maathai, que me interessei pelos problemas ambientais. Ela foi a minha maior inspiração.


Isso levou-me a estudar Ecologia e Conservação da Biodiversidade Terrestre na Universidade Eduardo Mondlane em Maputo. A partir daí, aproveitei todas as oportunidades para participar em projectos de pesquisa como assistente de campo. A minha ânsia de aprender levou-me ao Parque Nacional da Gorongosa, e fui enviada para uma formação em Ornitologia nos EUA. Foi isso que me aproximou a Joyce Poole [a ecologista dos elefantes], para quem trabalhei como estagiária. Prossegui o meu mestrado em Biologia da Conservação e depois de terminar, iniciei o Projecto de Ecologia de Elefantes em Gorongosa que dirijo actualmente.

O Parque da Gorongosa é um parque famoso, mas tem uma história trágica, não é?

Sim, o Parque Nacional da Gorongosa já foi um dos maiores parques da África. Sustentou algumas das mais densas populações de vida selvagem em África, mas as populações e os habitats foram dizimadas durante os anos de guerra civil até 1992. Em 2008, o governo Moçambicano firmou uma parceria com a Fundação Carr para a gestão conjunta do parque. Este lugar majestoso é hoje um caso de sucesso de conservação e restauro, e ensina-nos muito sobre resiliência. O Parque Nacional da Gorongosa prova que os sistemas sócio-ecológicos que sofreram com o conflito podem ser restabelecidos, se lhes for dado tempo e apoio.

Como estão os elefantes hoje na Gorongosa? E quais são os maiores desafios que prevê para o futuro?

Os elefantes da Gorongosa estão a recuperar bem. Agora temos mais de 1.000 elefantes, o que é um grande aumento em relação aos aproximadamente 200 que sobreviveram aos 16 anos de guerra. Nesta população de elefantes em recuperação, no entanto, podemos ver as cicatrizes do passado. Há uma alta percentagem de fêmeas sem presas. E os elefantes podem ser agressivos. Estão traumatizados e menos tolerantes à presença humana. O medo é certamente justificado. No entanto, a Gorongosa é agora um ambiente muito acolhedor para investigadores e turistas, e está a tornar-se mundialmente famosa mais uma vez.


Acho que os maiores desafios são a perda de habitat e o conflito entre homens e elefantes. Temos que navegar com cuidado no espaço onde as pessoas vivem e onde vivem os elefantes. A coexistência entre pessoas e elefantes é imperativa e desafiadora; precisamos reconhecer que ambos precisam de espaço. O processo de como passar do conflito para a coexistência e como integrar o planeamento do uso da terra para satisfazer as necessidades de ambas as espécies é delicado e crucial. O compromisso será necessário, e esse é outro desafio.

Passa muito tempo com as comunidades da Gorongosa. Como descreveria a atitude das mesmas em relação ao parque? Encontra muito apoio, ou mesmo hostilidade, em relação ao que tenta alcançar?

Trabalhar num lugar com um passado de desapropriação colonial e conflito pós-colonial e pobreza faz com que nem todas as partes interessadas estejam satisfeitas. Existe uma série de comportamentos dentro e entre as comunidades. Têm uma ética profundamente enraizada de conservação cultural, mas também precisam de meios de subsistência viáveis. O conflito entre humanos e animais selvagens complica as coisas. No entanto, a Gorongosa tem um plano de 30 anos para ser um motor de desenvolvimento humano, proporcionando acesso ao emprego, saúde e educação. A receita do turismo e o desenvolvimento sustentável são certamente o caminho a percorrer para garantir que as pessoas desfrutem dos benefícios de seu património natural.

Moçambique é um país grande e bonito. Onde é o seu lugar favorito para relaxar e descontrair?

Tenho três lugares preferidos: quando estou na Gorongosa, é a floresta das acácias amarelas ou ao longo da Estrada 3, vendo o pôr do sol, com as árvores sob uma luz dourada brilhante, e sentindo os aromas de suas flores. Na Beira, o meu sítio preferido é mesmo em casa, no bairro onde nasci e cresci, com as minhas irmãs e amigos de infância, seja a comer manga verde com sal, cana-de-açúcar ou a fazer papa de mandioca com leite de coco. Caso contrário, em Inhambane, na casa da mãe da minha melhor amiga perto da praia, rodeada de galinhas, patos e leitões.


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