O nosso amigo do mês de Junho é Moses Lesoloyia, natural do norte do Quénia. Moses é Gestor de Projectos do Milgis Trust, trabalha para melhorar o bem-estar dos Samburu e outros povos nómadas e para conservar a natureza no seu esplendor, apesar de frágil. Moses participou num filme especial sobre o norte do Quénia que mostraremos no evento online no dia 6 de Julho, sobre os desafios na conservação dos elefantes e as mudanças climáticas. Inscreva-se para o evento aqui.
Por favor, conte-nos um pouco sobre a sua infância? Cresceu em Samburu com uma vida muito tradicional, ou os seus primeiros anos foram muito impactados pelo mundo moderno?
Nos meus primeiros anos vivi uma vida puramente tradicional típica de Samburu. Comecei a frequentar a escola aos 10 anos e já tinha passado por todos as preparações e aprendizados de uma criança Samburu. Eu pastoreei o gado da família, tive os meus lóbulos das orelhas tradicionalmente furados, removi os meus dois dentes inferiores da frente - sem anestesia! Esses e várias iniciações serviram para aumentar a resistência e nos fortalecer. Aprendi tudo sobre as tradições Samburu, normas, tabus e assim por diante.
Como diria que a vida mudou para o povo Samburu, melhorou, piorou, ao longo da sua vida?
A vida melhorou e piorou. Houve muitas melhorias em termos de saúde, educação e segurança alimentar. Muitas pessoas costumavam morrer por falta de cuidados de saúde, infraestruturas e educação. Os Samburu costumavam depender inteiramente de seu gado para alimentação e quando a produtividade era baixa, as pessoas morriam de fome. Agora temos fontes alternativas de alimentos. Temos lojas e temos mais opções em termos de vestuário.
Mas piorou, a modernização trouxe uma erosão do tecido social que mantinha a nossa sociedade unida. As pessoas já não valorizam os outros, pensam somente em si mesmas. Enquanto isso, a melhoria dos cuidados de saúde tem causado a expansão da população, e isso leva à competição por recursos, espaço, água e outros serviços. Isso causou conflitos entre as pessoas, e entre as pessoas e os animais selvagens, e muita animosidade.
Os Samburu sempre viveram numa área rica em vida selvagem. Acha que as atitudes em relação à vida selvagem mudaram ao longo dos anos?
Quinze anos atrás eu teria dito ‘sim’. O governo criou uma noção de que toda a vida selvagem lhe pertencia, através do Kenya Wildlife Service (KWS). Como resultado, as pessoas não se importavam com a vida selvagem e matavam os animais usando armas e veneno. Achavam que o governo estava mais preocupado com a vida selvagem do que com os humanos, e isso enfureceu as pessoas. Na verdade, o nosso último rinoceronte selvagem foi baleado e morto por um homem revoltado em Keno Samburu, apenas para ofender o governo. Mas actualmente, o nosso relacionamento com a vida selvagem melhorou, graças aos enormes esforços das organizações dedicadas à conservação. As pessoas estão felizes em conviver com os animais e em construir poços para uso dos animais selvagens nas suas áreas.
Trabalha com o Milgis Trust, para melhorar a vida dos Samburu e proteger o meio ambiente. Qual é o aspecto mais agradável do seu trabalho?
As reuniões comunitárias onde falamos e discutimos sobre a conservação, as novas formas e as formas tradicionais. Eu interajo com muitas pessoas, jovens e mais velhas e ganho conhecimentos valiosos sobre o mundo moderno e o mundo tradicional de Samburu.
O norte do Quénia e o Corno da África enfrenta uma seca muito severa. Qual foi o impacto sobre os Samburu?
Os Samburu perderam um grande número de gado. Isso causa muito tensão e as crianças estão a abandonar a escola por falta de pagamento das propinas. A seca expôs os Samburu à fome e, como resultado, envolveram-se em actividades ilegais como caça ilegal, extração de madeira e queima de carvão, apesar dos tabus culturais em torno dessas práticas. O roubo de gado aumentou entre as nossas populações vizinhas, os Turkana e os Borana.
Deve ter viajado muito pelas paisagens espetaculares do norte do Quénia. Por favor, diga às pessoas que não estão familiarizadas com essas paisagens por que devem visitá-las?!
O norte do Quénia ainda está intocado. Muitos lugares ainda estão na sua forma primitiva, com pessoas bonitas como os Samburu e os Rendille que ainda vivem um estilo de vida tradicional. Muitos lugares são remotos e livres dos incómodos do mundo moderno; sem estradas, sem sinal de telefone ou ruído. Na verdade, o único barulho são os cantos dos pássaros, o rugir de um leão, o trombetear do elefante ou o cantar do Samburu que canta o dia inteiro.
Assista a conversa com Moisés sobre Samburu e conservação dos elefantes no nosso evento online especial agendado para o dia 6 de Julho. Registe-se aqui.
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